sábado, 23 de fevereiro de 2013

Visões

Meus passos eram distraídos, a cabeça cheia de atarefações, sentia a garganta explodir em meio a tanta gente que passava por mim, gente que não me conhecia e que eu jamais vira, estranhos sempre nos rodeiam em algum momento e naquele eu me sentia sozinha, até o sol havia me deixado e a lua perseguia meu andar, guiava meus pensamentos, olhei o relógio e sabia que já estava andando a muito mais do que queria, mas precisava continuar. Virei a esquina olhando com desconfiança para o outro lado da rua completamente vazia, apertava minhas mãos em punhos com os braços cruzados sobre o peito, quando olhei a frente, parei de súbito, te enxerguei a dez passos de mim, você com um meio sorriso me encarava, atônita fiquei imóvel, atravessei a rua em passos rápidos sinalizando com a mão para o taxi que passava, ele parou pra mim, sem pensar duas vezes entrei e dei meu endereço, quando olhei pelo vidro você tinha sumido, ido embora, e como era possível ter voltado? Como e de tal maneira tão perto? Logo que cheguei em casa larguei as chaves no sofá passei pela estante e resolvi voltar a ela, pegando em mãos o nosso retrato, aquele, de quando você ainda estava comigo, ainda estava aqui, ainda estava vivo fisicamente. Como podia? Minha mente havia se conturbado? Talvez a loucura seja fim de quem ama. Você não havia desaparecido e nunca iria, podia sentir isso, com a mais absoluta certeza, assim como sentia sua falta e não sabia se ver você esporadicamente sem te tocar era bom ou ruim, por mais absurdo que parecesse, talvez eu amasse essa loucura, amasse te ver mais uma vez..


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sincronia

Liguei a luz, com ela veio a certeza de que fevereiro deixava evidente o ritmo acelerado que minha vida tinha assumido e ainda iria assumir.
O calor da estação não era o bastante para substituir todo calor que minha alma pedia agora.
Sábado ao contrário de um dia boêmio, virara dia de reflexão, pensamentos e questões a serem respondidas. Minha cabeça ainda rodava sem saber se as coisas caminhavam como eu queria. Enquanto me apoiava levemente na parede lateral do quarto fechei os olhos na tentativa de aliviar o agitamento da minha mente que não conseguia parar de correr em volta dos meus passos. Imaginei a praia, deu quase pra sentir a brisa do fim de tarde tocando o rosto, ou então a areia molhada enquanto ia me aproximando da água que de dez em dez segundos me alcançava e eu sentia como se tudo estivesse resolvido, puro e tranquilo. Respirei fundo e novamente abri os olhos ainda com um meio sorriso. Não gostava tanto de mudanças, mas também não conseguia me distanciar delas. Perseguição, aventura, não sei o que era, mas precisava mudar sempre, preciso, só assim se evoluí, ou se machuca, ou se fortalece, mas se evolui. Desliguei a luz com a convicção de que mesmo não sendo fácil, algo bem lá no fundo arrancava o medo, a incerteza, e dizia que vai se realizar. A vida vai se realizar.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Completamente fora do eixo

E já não chovia, mesmo assim o tempo continuava nublado aos meus olhos. Minhas mãos pouco a pouco empurravam os lençóis, nunca fora de usar lençóis pois afinal para que servem se não uma barreira a mais, sempre pensei assim, mas ele gostava e no instante de cada vez tentar reclamar deles exalava seu cheiro e tornava-se inútil qualquer tentativa de balbuciar reclamações tolas. Não conseguia me levantar, na verdade não queria, mas a luz da janela pequena ao lado esquerdo de sua cama me deixava desperta procurando pelos mesmos olhos de ressaca que horas atrás encaravam os meus. Não encontrei pelo pouco que olhei da cama ao quarto e corredor. Ele sempre fazia isso, levantava mais cedo, acho que como alguma espécie de tática pra me deixar sempre esperando por sua volta. Então acordei, de verdade.